Espelho, espelhos meus
sei quem é, esse meu eu
que vejo multiplicado
à minha volta, aos milhares
e às voltas com minhas pilhagens
desses todos, esses eu mesmo
Neste eu, não sou só eu,
meus complexos reflexos
que nem sempre reconheço
quando penso, sim,
quando insano penso
Meus eus que me afrontam
me assustam e me separam
que as vezes à monstros comparo
que me dão solidão e medo
quando assim escolho vê-los
Mesmo meus eus
que me agradam, me encantam
que até chego a pensar que amo
não o Amor
mas o amor do mundo,
o amor dos preços
Ainda acontece
ainda me engano,
na ilusão da distância
entre os corpos usados
nesse sonho que invento
Ainda me iludo, ainda retorno
à ilha construída aqui dentro
dessa mente, que as vezes se esquece
que só pode provar do seu próprio reflexo
A que cria meu mundo
hora puro, hora imundo
com tudo e todos
quando assim julgo
quando assim titubeio
Que nele, esses outros que vejo,
como outras ilhas distantes
não são mais que meus entes
expressões de uma única mente,
apenas se experimentando
E são tantas
são todas
complementando-se
atendendo sem lembrar
as escolhas
umas das outras
Seja quando se pensam luz
ou quando se pensam sombras
sejam a favor, neutras ou contra
seja o que for, é só faz de conta
Não carece punição
não carece julgamentos
Experimento,
é só um experimento
Mas quando recobro a memória
e lembro, de onde vim
as recolho, as ilhas, todas de volta
e as acolho em meu centro
Ali as reconheço, sou todas
e só nelas, Sou
e só nelas me vejo
E assim vislumbro
lembranças do Céu
mesmo ainda dançando
a delirante dança do tempo
Experimento,
é só um experimento
Da luz querendo ser muitas
provando uma idéia de opostos
para estender-se
em conhecimento
Criando infinitos aspectos
Provando um a um
num projeto
de vida em exploração
das infinitas possibilidades
criadas e vividas em si mesma
Provando em sonho
o que só em sonho pode ser
eu, tú, ele, nós vós, eles
ao invés do somos Um,
Um que é Tudo,
que é o Todo
Experimento…
Da única Luz,
que Sou,
que Somos,
provando da Criação Una
e de seu Eterno Movimento.