
Nas vésperas do segundo turno das eleições para a presidência do Brasil, havendo a séria ameaça da subida ao poder do candidato fascista, venho recordar e homenagear (com um soneto) D. Paulo Evaristo Arns, cardeal e arcebispo emérito de S. Paulo, falecido a 14 de dezembro de 2016, com 95 anos.
D. Paulo tornou-se numa das figuras maiores da história do Brasil por ter denunciado muito corajosamente os crimes da ditadura militar (1964-1985) e pugnado pelos direitos políticos, sindicais e de liberdade de expressão. Durante e depois da ditadura, defendeu os trabalhadores rurais sem terra e os indígenas e promoveu o diálogo ecumênico. Vendeu o Palácio Episcopal de S. Paulo para criar comunidades eclesiais na periferia. Chegou a ser proposto para Prêmio Nobel da Paz. O papa Francisco disse, aquando do seu falecimento: “Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor”.
Este soneto foi publicado há dois anos em vários jornais portugueses e brasileiros.
Homenagem a D. Paulo Evaristo Arns
Sorriso de verdade e de ternura,
De paz e de justiça, ó franciscano,
Que invadiste os porões da ditadura,
Tu deste um deus a cada ser humano!
Porque foste, no ventre da tortura,
A mãe dos que morreram… E o tirano
Visitaste co’ amável abertura
E lhe mostraste o algoz, tão desumano!
Desceste à periferia da cidade
E deste ao Homem Novo a dignidade
Do irmão – o eterno ser, o incompreendido,
Que, como tu, na hora da verdade,
Se levantou no apelo à liberdade
Mas, hoje, volta a ser o preterido.